Análise Química para Avaliar a Fertilidade do Solo (1).

Catani, R. A.

Jacintho, A. O.

1. INTRODUÇÃO

A análise química do solo pode prestar alguma contribuição para o diagnóstico de sua fertilidade. Em regiões onde já foram realizados e publicados trabalhos básicos sobre classificação e caracterização de solos, formas de ocorrência de diversos elementos, incluindo-se os nutrientes vegetais, experimentação agronômica de adubação e calagem com varias culturas, etc, o auxílio prestado pela análise química para a avaliação da fertilidade do solo tem sido apreciavel (NELSON & OUTROS, 1951; CATANI, GALLO & GARGANTINI, 1955; MELSTED, 1967; CATE & VETTORI (sem data); CARGANTINI & OUTROS, 1970).

As diversas fases que constituem um programa completo de avaliação da fertilidade do solo são: amostragem adequada e preparação da amostra; extração e determinação dos elementos e íons de interesse; interpretação dos resultados; e indicações.

2. AMOSTRAGEM E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS

A amostragem e a preparação das amostras apresentam uma importância considerável no conjunto das diversas etapas de um programa de avaliação da fertilidade do solo. Os métodos de extração e de determinação dos elementos e íons de interesse podem ser os mais adequados, mas se a amostra não foi obtida e preparada convenientemente, os resultados, a interpretação e as indicações serão prejudicados.

O sistema mais conveniente de amostragem de uma certa área para a avaliação da fertilidade é o baseado na extração de amostras compostas (REED, 1953; CATANI & OUTROS, 1954; CATANI, GALLO & GARGANTINI, l955; WELCH & FITTS, 1956; PETERSEN & CALVIN, 1965; PECK & MELSTED, 1967).

Tanto a maneira de coletar a amostra composta ,como os apetrechos que têm sido empregados no Estado de São Paulo, já foram descritos (CATANI, GALLO & GARGANTINI, 1955). No entanto, julga-se conveniente formular algumas sugestões gerais concernentes aos apetrechos utilizados e a maneira de obter-se amostras representativas da área de interesse.

Qualquer apetrecho amostrador poderá ser utilizado desde que satisfaça algumas condições, tais como: seja capaz de retirar amostras simples, relativamente uniformes quanto ao peso ou ao volume e que deve ser da ordem de 30 a 50ml ou de 40 a 60 gramas; seja de uso fácil e rápido em solos arenosos e argilosos, quer quando razoavelmente secos ou úmidos. Alguns apetrechos mais comuns, trado, colher de jardineiro e tubo de aço inoxidável são apresentados nas figuras 1, 2 e 3.

A amostragem, em terras que vão ser cultivadas com culturas anuais ou perenes, deve ser feita percorrendo-se em zigue-zague a gleba a ser amostrada, retirando-se um certo numero de amostras simples de 15 a 20cm de profundidade, cobrindo toda a área e a reunião das mesmas formara a amostra composta (Fig.4).

As áreas a serem amostradas não devem exceder 10 a 20 hectares de solo uniforme quanto a textura, cor, topografia e uso em anos anteriores. O numero de amostras simples a ser retirado da citada área não deve ser menor de 12 e, em geral, não precisa exceder a 20.

Entretanto, deve-se levar em conta que as áreas que vêm recebendo a adição de calcário e de fertilizantes nos últimos 3 anos, devem ser amostradas com mais cuidado (PECK & MELSTED, 1967).

Julga-se que a maneira mais simples de assegurar ou melhorar a representatividade nas citadas áreas, consiste em aumentar o numero de amostras simples de 12 a 20 para 30 a 40.

Para as terras que já estão sendo cultivadas com plantas perenes como café, citrus, etc., a amostragem deverá ser orientada de um modo um pouco diferente. Percorre-se, em zigue-zague, a área de 10 a 20 hectares e retiram-se 12 a 20 amostras simples no cruzamento das entrelinhas; reúnem-se as amostras simples e tem-se a primeira amostra composta designada com a letra E, isto é, representando as entrelinhas. Percorre-se, novamente, a mesma área e retiram-se 30 a 40 amostras simples sob a copa das plantas; reúnem-se as amostras simples e tem-se a segunda amostra composta designada com a letra C, isto é, representando o solo sob a copa da planta (Fig. 5). As duas amostras devem ser analisadas separadamente porque representam condições diferentes de solo. Assim, na cultura de café já foram obtidos dados que mostraram que enquanto o pH e o teor de alumínio trocável do solo da região das entrelinhas apresentaram os valores 5,30 a 5,60 e 0,20 a 0,30 e.mg /l00g de solo, respectivamente, as citadas características do solo da região localizada sob a copa do cafeeiro, apresentaram os valores (pH) 4,0 a 4,8 e 0,50 a 3,00 e.mg A1/l00g, em virtude da inf1uência de certos fertilizantes nitrogenados. No caso de cultura perene que não tenha recebido qualquer corretivo e/ou fertilizante, pode-se suprimir a amostragem sob a copa das plantas, ficando apenas a das entrelinhas.

Reunidas e muito bem misturadas, as amostras simples em vasilhame conveniente, retira-se uma porção da amostra composta de 200 a 400 gramas. A mesma é identificada, embalada em recipiente adequado e limpo e todas as informações relativas às diversas áreas (cultura anterior e produção; quantidade e tipo de adubo e quantidade de calcário empregados; cultura a ser feita, etc.) amostradas devem ser fornecidas ao laboratório de analise.

Figura 4 - Amostragem em áreas que vão ser cultivadas. Percurso em zigue-zague para a retirada de amostras simples (30 no exemplo), que reunidas vão formar a amostra composta.

(1) trabalho publicado originalmente no Boletim Técnico Científico, nº. 37 - ESALQ - Piracicaba (SP) - 1974 , 57 páginas.